sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Pra tudo se acabar na quarta-feira


Por Rufino Carmona*


Carnaval é com letra maiúscula por ser um substantivo próprio (pelo menos eu sempre achei que fosse) ou é com letra minúscula, coisa que nunca havia passado pela minha cabeça?

Pois bem, é com letra minúscula, porque é uma festa pagã, diferentemente, é claro, do Natal, da Páscoa e de Corpus Christi, festas religiosas, nesse caso particular, cristãs. Mas para as festas judaicas, islamistas, budistas e de qualquer outra vertente religiosa vale também a nossa famosa caixa alta, a letra maiúscula.

É justo! É justo? Sim, para mim, é justo. E por quê? Que fique claro, primeiramente, que não sou nenhum religioso fervoroso, apesar de ter as minhas convicções nesse campo e também nunca fui nenhum carnavalesco exaltado. Muito pelo contrário! Apesar de também ter as minhas paixões nesse campo.

Então, é justo que seja com letra minúscula por causa da quarta-feira. Sim, a de cinzas. Veja que o nome é bem interessante. Vem à minha mente o “famigerado” cigarro que produz tanta cinza e doença por aí. Ah! Que os fumantes me poupem. Sou preconceituoso mesmo. E como sou. Cigarro, tô fora!

Mas voltando às cinzas, me parece que as pessoas vão se esvaindo durante esses próximos dias de folia tal qual o cigarro se esvai nos pulmões tão doentes dos nossos viciados. Sobram somente as cinzas. Apenas elas. O cigarro se vai. A pessoa se vai. E apesar de a maioria delas voltar na quarta-feira, algo se perde. E o que se perde não se encontra nunca mais. Nunca mais mesmo!

Claro que o meu enfoque é todo ele subjetivo. Mas infelizmente muitos se vão mesmo e de forma objetiva. Não voltam nunca mais para suas famílias. E aí não sobra pedra sobre pedra mesmo!

O poeta Martinho da Vila compôs um samba-enredo muito lindo, num longínquo 1984, em que o tema era a própria preparação para o desfile da querida Vila Isabel, de Noel Rosa e de tanta gente boa. Ele falava dos preparativos para o desfile, do dia propriamente dito e da Quaresma, que começa logo após as cinzas da quarta-feira.


Esse samba sempre vem à minha mente não somente por ser uma obra prima, mas também por guardar uma certa tristeza, escondida detrás de um prazer fugidio, típico desse mundo.

E o que você vai fazer na quarta-feira? Pergunta chata nessa sexta-feira em que o Rei Momo abrirá o carnaval em todo o nosso Brasil. Bem, eu vou estar por aqui, são e salvo, após uma programação toda off-carnaval a não ser pelas duas únicas recaídas, quando verei, pela tevê, apenas duas escolas de samba, as que me fazem arrepiar, independentemente se estão bonitas, independentemente se vão ter alguma chance de ganhar o desfile. Ah! E nenhuma das duas é a Vila Isabel.

Bom carnaval a todos!

Bom carnaval?

*jornalista que teve uma ideia de mau gosto, a de tentar colocar água no chope dos foliões. Mas ele também não consome álcool, ok? Mas que cara chato!

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