quarta-feira, 6 de junho de 2012

Coração tricolor

Por Rufino Carmona

O verde, o branco e o grená, as três cores que traduzem tradição, deram lugar a um tom meio acizentado desde o início da tarde da última sexta-feira. O coração tricolor parou. O mesmo coração que contaminou o meu de pó de arroz há quase 44 anos.


Dias difíceis. Tudo me faz lembrar daquele contra quem travei longas batalhas na vida. Parece incoerente. Mas não é. Travamos o bom combate. Passamos mais de 40 anos lutando para aceitarmos nossas diferenças. Mas nós vencemos. Não só as aceitamos, como pudemos viver dois anos que beiraram quase à perfeição.

Eu queria viver mais 20 anos perfeitos como esses dois. Mas será que precisava mesmo? Vimos, no último mês, jogos memoráveis do nosso tricolor. Fomos campeões do estado em dois jogos sensacionais diante do Botafogo. Conseguimos, com muito sofrimento, a vaga para as quartas de final da Libertadores diante do Internacional. E mesmo no empate com o Boca, em que fomos eliminados, sobrou emoção, emoção pura. Foi um jogasso. O último que vi com ele. Uma partida quase impecável do Fluminense, não fosse um passe magistral de um tal de Riquelme.

Mas nem só do Fluminense nós vivemos nesses dois anos. A troca de carinhos foi tamanha. Carinho esse resgatado lá do fundo do baú das noites em que ele chegava do trabalho e me levava para a cama e brincava comigo cantando um samba do Império Serrano que eu nunca vou esquecer. Tinha uma parte que falava assim: “cai, cai, cai, cai.....”. Nessa hora, ele me soltava e eu caía. Não precisa nem dizer que eu ria desesperadamente, como só uma criança pode rir.


E o que dizer das inúmeras vezes em que ele me enganava dizendo que tinha chupado cinco laranjas e eu dizia que queria seis então. E não é que ele me dava as seis? Malucão.


Pois bem, vivemos, depois de tantos anos, algo parecido desde o dia em que ele completou 70 anos, em 16 de fevereiro de 2010. Nesse dia, sem avisá-lo, eu fui lá em Maricá e dei um abraço nele pela data. Era o nosso reencontro, nossas pazes, depois de quase uma década sem nos falarmos.

De 16 de fevereiro de 2010 a 1º de junho de 2012, vivemos, eu e meu pai, um conto de fadas, regado a verde, branco e grená. Só não sei como vou conseguir assistir, hoje à noite, a Fluminense X Santos, o primeiro jogo a que o Rufininho vai assistir sem a presença do Rufa. Haja coração! Mas ele estará vendo junto comigo, pelo menos foi o que prometeu nos últimos jogos que vimos juntos no Engenhão.


Então, eu acho que vai dar tudo certo. Ainda mais que o Neymar nem vai estar em campo para atrapalhar.

Adeus, meu pai! Mas não fica muito longe não. Qualquer dia desses vamos encher este Céu do Senhor Deus com muito pó de arroz.


4 comentários:

Viviane Polido disse...

Que lindo texto, meu amigo! Meu profundo sentimento pela sua perda. Fico muito feliz em saber que tiveram chance de se reconciliar e viverem momentos felizes juntos nos últimos anos, são eles que devem ficar. Parabéns pela força mostrada diante deste fato, este texto prova isso.
Um grande abraço (daqueles demorados)
Saudades
Viviane Polido

Viviane Polido disse...

Que lindo texto, meu amigo! Meu profundo sentimento pela sua perda. Fico muito feliz em saber que tiveram chance de se reconciliar e viverem momentos felizes juntos nos últimos anos, são eles que devem ficar. Parabéns pela força mostrada diante deste fato, este texto prova isso.
Um grande abraço (daqueles demorados)
Saudades
Viviane Polido

Viviane Polido disse...

Que lindo texto, meu amigo! Meu profundo sentimento pela sua perda. Fico muito feliz em saber que tiveram chance de se reconciliar e viverem momentos felizes juntos nos últimos anos, são eles que devem ficar. Parabéns pela força mostrada diante deste fato, este texto prova isso.
Um grande abraço (daqueles demorados)
Saudades
Viviane Polido

Viviane Polido disse...

Que lindo texto, meu amigo! Meu profundo sentimento pela sua perda. Fico muito feliz em saber que tiveram chance de se reconciliar e viverem momentos felizes juntos nos últimos anos, são eles que devem ficar. Parabéns pela força mostrada diante deste fato, este texto prova isso.
Um grande abraço (daqueles demorados)
Saudades
Viviane Polido