quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Uma das campeãs de audiência na história da TV brasileira


Por Ribamar Filho

Em comemoração aos 60 anos da TV no Brasil, colocamos no ar um texto do jornalista Ribamar Filho, da equipe MercadoCom.


Palavras do jornalista: Este texto foi extraído da minha monografia, que teve como tema "Qual o papel da teledramaturgia no Brasil?". Essa é a conclusão do trabalho, apresentado em 2007 na UniCarioca. E não percam o próximo capítulo amanhã! Espero que gostem e comentem.


Quando iniciei minha pesquisa sobre a teledramaturgia brasileira, pensava em analisá-la sob duas vertentes: o entretenimento e a sua função social, debatendo temas de preocupação do cotidiano da sociedade como drogas, DST’s, homossexualismo, violência, corrupção entre outros. Mas após meses de estudo, cheguei à conclusão de que a teledramaturgia não pode ser rotulada. É um produto que já faz parte da cultura nacional.


Desde a década de 1950, quando teve início as primeiras tramas, com base ainda nos dramalhões cubanos e mexicanos, a teledramaturgia já assumia um caráter importante na cultura nacional: o de oferecer um entretenimento de fácil acesso (com o decorrer do tempo, tornou-se o produto mais lucrativo no cenário televisivo), abrangendo diversos públicos com histórias que cativam o telespectador.

O brasileiro passou a se ver, anos depois, no primeiro grande marco da teledramaturgia brasileira: Beto Rockfeller. A partir daí, criou-se mais uma vertente das tramas nacionais: a de colocar o povo na televisão, debatendo as injustiças, a corrupção, a violência entre outros assuntos que se tornaram parte, lamentavelmente, do cotidiano nacional.

As histórias de Betos, Roques, Sassás Mutemas, que são o espelho do nosso país, fizeram com que o brasileiro criasse o hábito de receber e aplaudir esse produto que cresceu e amadureceu no Brasil.

Já são sessenta anos de teledramaturgia nacional. Muita coisa mudou: a forma de editar, a fotografia, as grandes produções e o enovelar das histórias, que aumentaram em alguns meses. Os autores passaram a receber a ajuda de co-autores. No entanto, o co-autor mais importante é o público, aquele que liga o televisor, todos os dias, naquele mesmo horário, na mesma história, e manda o seu “pitaco” por carta, pessoalmente, através de pesquisas, telefonemas e, na atualidade, até por e-mail. O telespectador sempre acerta a mão da história, quando acontece algum deslize.

O papel da teledramaturgia nacional é o entretenimento. Mas isso não quer dizer que as histórias contadas há sessenta anos não sirvam também para demonstrar e evidenciar temas importantes do nosso país. É a junção de todos os ingredientes de um bolo, às vezes de chocolate, outras vezes de baunilha. Todos, sem exceção, levam ovos, farinha e leite. Mas só alguns têm cobertura e poucos vêm com recheio.

Tem as tramas com comédia, praia, sol, mulheres e homens bonitos, que apesar de fazerem algumas críticas aqui ou ali sobre determinado tema da atualidade, apelam mais para o humor. Outras trazem temas mais “pesados” para nos fazer refletir sobre o cotidiano do animal mais complicado do mundo, o homem. No entanto, todas elas se complementam nas histórias criativas e sempre mutáveis. Todas trazem como base o folhetim clássico: os vilões e os mocinhos, que, com o passar do tempo, tornaram-se mais reais, podendo cometer erros e acertos como todo ser humano. Isso tudo sem perder o charme e a irreverência dos personagens esquisitos, ou mesmo incríveis, e também os bordões, jeito de vestir e de se comportar que ditam a moda durante aqueles meses em que a história se desenrola.


Ainda temos as minisséries que trazem um valor estético ao tema. São obras mais fechadas, em que o telespectador não pode intervir, mas que promovem gratas surpresas na forma como são contadas, com fotografia, edição, direção e produção que fazem a diferença.


É difícil dizer como se faz uma teledramaturgia de sucesso. Mas a qualidade da produção nacional em relação às mexicanas, norte-americanas e cubanas, trouxeram um valor mais rico à teledramaturgia nacional. Os temas diferenciados, a ousadia na produção e a proximidade com o gosto do telespectador são os nossos grandes diferenciais.

A teledramaturgia é o profissional completo. Não fica centrada em somente uma vertente. É uma obra aberta, onde todos já deram a sua opinião. É o profissional que não ficou preso no tempo, mas evoluiu. As histórias de todos esses anos nos afetaram não só no pensamento, mas também na alma. Quem não chora ao ver aquela cena antológica, aquele personagem sofredor, a realidade de nossa sociedade? Quem não ri com as situações e personagens cômicos, não tão distantes da nossa realidade?

A teledramaturgia é o nosso espelho, às vezes intacto, às vezes quebrado, mas que mostra sempre o que queremos ver, em algum outro ângulo, num movimento catártico. Mostra a realidade da era da globalização com ênfase no aquecimento global e também os mitos e sonhos de nossos pensamentos mais sombrios. Ela é o consciente e o inconsciente persistente e presente.

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