Sobre o TDAH: algumas
considerações
*Larissa Costa Beber
Scherer
As
queixas de agitação, irritabilidade e dificuldades de aprendizagem em crianças
e adolescentes têm sido cada vez mais freqüentes por parte de pais e professores.
Esquecimentos repetitivos, perda dos pertences, desorganização nos pensamentos,
dificuldades em permanecer sentados na sala de aula, dispersão, agressividade
são alguns comportamentos percebidos no contexto escolar e social.
Paralelo
a essas percepções, surge em meio a esse cenário o aumento significativo do
diagnóstico de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), uma
alteração neurológica frequentemente tratada com o uso de medicação específica.
Estudos atuais sobre o tema atribuem esse número alto de casos à necessidade de
nomear os comportamentos observados através de uma doença. A explicação para a
impulsividade, irritabilidade e desatenção tende a ocorrer de forma a
transformar tais comportamentos em um transtorno. Entretanto, a determinação de
que tais manifestações ou dificuldades sejam entendidas e explicadas como uma
disfunção de origem orgânica, cerebral, pode impedir outras possibilidades de
compreensão e intervenção, seja em nível familiar, escolar ou social.
A
determinação de diagnósticos de forma apressada, nestes casos, pode gerar a sua
banalização. Isso não implica que o diagnóstico não seja útil e necessário. A
crítica incide sobre a forma pela qual o processo vem sendo realizado, sem
levar em conta fatores psíquicos, sociais e culturais. Deixam de serem
consideradas, muitas vezes, as características próprias da infância e
alterações comuns em crianças e adolescentes que estão em desenvolvimento. Sabemos
que o sujeito se estrutura na relação com o outro e é a partir desses
(des)encontros que o pequeno ser vai constituindo sua particular maneira de
lidar com as demandas que lhe são endereçadas. É através do brincar que as
crianças podem transformar situações difíceis, atribuindo outros sentidos. Por
isso a importância de se oferecer espaços e atividades que considerem as
especificidades da infância e adolescência, respeitando aspectos próprios de
cada faixa etária.
O
desenvolvimento psico-social e a aprendizagem dependem de muitos fatores. Se
algo não vai bem, diversos aspectos podem estar implicados além do orgânico.
Abordar a questão de forma mais ampla considerando todos os fatores envolvidos
e estender as discussões sobre a educação de nossas crianças e jovens é uma
necessidade para buscarmos avançar na compreensão de fenômenos e comportamentos
que encontramos no contexto escolar e social. Cabe aos adultos, pais e
professores, refletir sobre as relações, exigências e expectativas depositadas
sobre as crianças e jovens no contexto atual, além de buscar classificar comportamentos
em doenças.
(*)
Psicanalista, Mestre em Educação e Psicóloga educacional da Escola Garriga de
Menezes - Fundamental I
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