quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Rio em Perspectiva: Divagações Sobre um Horizonte Turvo

Por Carlos Pinho 


Uma semana. Uma semana de chamas, guerra, pessoas ilhadas em suas casas, com os seus olhares incertos das frestas de suas janelas entreabertas. Outras, nas ruas, à mercê da própria sorte pelo tão suado ganha pão. Somos animais acuados. Uma semana de medo. Um temor, para muitos, mesclado a um alívio e a esperança de um amanhã menos hostil. Para outros, a sensação de que tudo ficará na mesma. E que, no final das contas, quem vai se dar mal – mais uma vez – é o pobre. Se já não fosse demais tudo o que passa.

Algo tem de ser feito. Deveria ter sido feito há tempos. Nem se deveria ter deixado chegar a esse ponto . Contudo, a repressão, por si só e, para redundar, tão somente, seguirá de um banho de sangue e da recomposição da mão de obra e aparato do narcotráfico. E com a morte de inocentes. O Estado tem de resolver um problema que ele mesmo criou. E todos nós formamos esse Estado. Nas suas devidas instâncias. Em cada micro contexto, existe um elemento estatal. Somos os agentes e os resultados dessa grande fantasia chamada sociedade. Porém, os traçantes, as mortes, o fogo lambendo veículos e o choro da gente sofrida e honesta do Rio não é, em nenhum aspecto, ilusório.
 
Como começar a alterar um panorama tão adverso de uma lógica perversa? Possibilitando uma vida digna às pessoas: com educação, saúde e paz (a paz com voz) de qualidade para todos. Tirar da margem os que lá sofrem diretamente e eliminar o joio (ou acham que a polícia vai entrar na base do “com licença” , ”por obséquio”,”sejam parcimônios”) , em todos os setores da sociedade. Punir os corruptos em geral: entre os chamados “formadores de opinião”, na política, na polícia, traficantes (os das favelas e dos condomínios de luxo na Zona Sul) e os investidores diretos e indiretos das mazelas da sociedade. Exaurir a criminalidade o menor fogo cruzado possível. Sendo possível, com nenhum .

Aí, novamente, a questão: Como? Asfixiando política e financeiramente o crime. Investigando e penalizando políticos, empresários. Fazendo apreensões. Controlando as fronteiras. Remunerando, equipando e preparando melhor os policiais. Investindo em inteligência. Investindo seriamente em educação. Formando cidadãos. Mostrando que há um jardim a se explorar, para além da terra arrasada. Indicar o caminho e dizer que é possível. É um ideal. Talvez, uma utopia. Mas a complexidade do tema está muito além de frases de efeito, palavras de ordem e imagens de uma guerra campal.

São cem anos de abandono, cinquenta de vista grossa e trinta de conivência. Não serão duas semanas que resolverão tudo. No entanto, se bem aproveitado, e tratado com a seriedade devida (e não como uma plataforma de palanque político, afinal, os olhos do mundo estão mirados ao Brasil por questões óbvias), pode significar o primeiro passo de algo a longo prazo, já que a corrupção e a contradição estão introjetadas em nosso cotidiano. E o entoado “jeitinho brasileiro” é um retrato de nossa cultura .

Que a paz esteja conosco . . .

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