Por Rufino Carmona
Nesses últimos dias, cresceu em mim uma vontade grande de falar sobre Fernando Henrique Cardoso. Mas, antes de qualquer coisa, preciso informar algo que considero muito importante: eu votei em Lula todas as vezes que o ex-operário concorreu à presidência da República. Desde a derrota para Fernando Collor, em 1989, passando pelas derrotas para o próprio Fernando Henrique, em 1994 e em 1998, até suas duas vitórias, em 2002, diante de José Serra e em 2006, diante de Geraldo Alkmim.
Acho importante deixar isso claro para ninguém dizer que eu sou do PSDB ou que esteja em campanha contra o atual governo do PT – por sinal, votei em Dilma Rousseff.
Posto isso, preciso também comemorar os 80 anos desse homem que lutou pela democracia junto com Lula e com tantos que hoje o rejeitam. Eu rio por dentro, mas com certo grau de revolta, quando o acusam de direitista, quando escarnecem de seus oito anos de presidência, enfim, quando não respeitam o significado que teve e que, ainda tem, o grande sociólogo.
O governo de FHC, querendo ou não os petistas, criou as bases para as grandes conquistas da era Lula. Como acusá-lo de privatista? Sim, ele privatizou muitas empresas. E fez muito bem. Lula também faria. O que é a Vale hoje gente? E as empresas de telefonia? Eu não tinha telefone celular. Vim a ter só em 1998.
Considerá-lo neoliberal é também muito engraçado. Fico pensando quem hoje é o quê. O que é ser de direita ou ser de esquerda? Vivemos numa época em que todos esses rótulos caíram e estamos desesperados tentando nomear coisas que ainda não têm nome, porque nem sabemos direito o que são.
Depois da queda do Muro de Berlim, em 1989, tudo o que parecia ser uma coisa foi deixando de parecer ano após ano. E, ainda hoje, em 2011, nada parece com nada anterior à queda do muro.
E Fernando Henrique governou esse país nesse momento em que todos os modelos haviam perdido o sentido e todas as premissas soavam meio falsas. Mas ele teve que governar assim mesmo. Contrariou muitas teses do seu próprio partido – assim como Lula também fez – ao se aliar com o PFL e a ter que fazer um governo de base larga, com gente que representava até os piores quadros da nossa política, como é feito até hoje.
Ele não teve medo de falar: “Esqueçam o que eu disse no passado”. Ele sabia muito bem que ninguém sabia de mais nada àquela altura. Então, do quê valeria seguir teorias pré-queda do muro?
Fiquei mais feliz quando vários políticos adversários, dentre eles, a atual presidenta da República, Dilma Rousseff, lhe homenageou pelos 80 anos. E, cá entre nós, a carta que ela escreveu para ele foi bonita demais, reconfortante. É como se esse governo estivesse fazendo as pazes com o passado. Dizendo, claramente, que, sem aquele passado não seria possível construir o presente de agora.
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