quinta-feira, 7 de julho de 2011

Fernando Henrique Cardoso


Por Rufino Carmona

Nesses últimos dias, cresceu em mim uma vontade grande de falar sobre Fernando Henrique Cardoso. Mas, antes de qualquer coisa, preciso informar algo que considero muito importante: eu votei em Lula todas as vezes que o ex-operário concorreu à presidência da República. Desde a derrota para Fernando Collor, em 1989, passando pelas derrotas para o próprio Fernando Henrique, em 1994 e em 1998, até suas duas vitórias, em 2002, diante de José Serra e em 2006, diante de Geraldo Alkmim.

Acho importante deixar isso claro para ninguém dizer que eu sou do PSDB ou que esteja em campanha contra o atual governo do PT – por sinal, votei em Dilma Rousseff.

Posto isso, preciso também comemorar os 80 anos desse homem que lutou pela democracia junto com Lula e com tantos que hoje o rejeitam. Eu rio por dentro, mas com certo grau de revolta, quando o acusam de direitista, quando escarnecem de seus oito anos de presidência, enfim, quando não respeitam o significado que teve e que, ainda tem, o grande sociólogo.

O governo de FHC, querendo ou não os petistas, criou as bases para as grandes conquistas da era Lula. Como acusá-lo de privatista? Sim, ele privatizou muitas empresas. E fez muito bem. Lula também faria. O que é a Vale hoje gente? E as empresas de telefonia? Eu não tinha telefone celular. Vim a ter só em 1998.

Considerá-lo neoliberal é também muito engraçado. Fico pensando quem hoje é o quê. O que é ser de direita ou ser de esquerda? Vivemos numa época em que todos esses rótulos caíram e estamos desesperados tentando nomear coisas que ainda não têm nome, porque nem sabemos direito o que são.

Depois da queda do Muro de Berlim, em 1989, tudo o que parecia ser uma coisa foi deixando de parecer ano após ano. E, ainda hoje, em 2011, nada parece com nada anterior à queda do muro.

E Fernando Henrique governou esse país nesse momento em que todos os modelos haviam perdido o sentido e todas as premissas soavam meio falsas. Mas ele teve que governar assim mesmo. Contrariou muitas teses do seu próprio partido – assim como Lula também fez – ao se aliar com o PFL e a ter que fazer um governo de base larga, com gente que representava até os piores quadros da nossa política, como é feito até hoje.

Ele não teve medo de falar: “Esqueçam o que eu disse no passado”.  Ele sabia muito bem que ninguém sabia de mais nada àquela altura. Então, do quê valeria seguir teorias pré-queda do muro?


Fiquei mais feliz quando vários políticos adversários, dentre eles, a atual presidenta da República, Dilma Rousseff, lhe homenageou pelos 80 anos. E, cá entre nós, a carta que ela escreveu para ele foi bonita demais, reconfortante. É como se esse governo estivesse fazendo as pazes com o passado. Dizendo, claramente, que, sem aquele passado não seria possível construir o presente de agora.

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