terça-feira, 23 de agosto de 2011

Reaprendendo a educar



Por Aristeo Leite Filho*

Houve época em que as crianças e os jovens eram predominantemente educados por seus pais, cabendo à escola exclusivamente ensinar-lhes os conteúdos escolares e suas regras institucionais.

Hoje, a situação é outra. Pais e mães trabalham fora e permanecem diariamente longo tempo afastados de seus filhos. Divididos, não conseguem resolver situações paradoxais do cotidiano e ao mesmo tempo em que se veem sem tempo para a tarefa de educar querem assumir, como seus pais, tal função. Dilema constante que fica sem solução.

A escola, por sua vez, recebe crianças e jovens para ensinar e, desta feita, educar. Uma mudança que nem sempre está presente nos cursos de formação de professores. Aqueles que, originalmente em suas licenciaturas, se preparavam profissionalmente para ensinar as ciências e as artes com didáticas e metodologias, hoje são exigidos no sentido de educar além de ensinar.

A escola passou a ser uma agência educativa em busca de uma nova identidade, que lhe exige um projeto inovador, diferente de tudo que já foi realizado desde o século XVII. Cabe a ela educar as crianças e os jovens de hoje para um mundo em constante mudança.

A imprevisibilidade do amanhã, juntamente com a concepção de criança não como adulto em miniatura ou como cidadão do futuro, mas como sujeito de Direitos – cidadã – demandam da escola uma nova configuração, uma instituição que está por ser reinventada.

Seus primeiros traços esboçam a necessidade de uma nova pedagogia “não preparatória”, “não escolaresca”, “não desconectada da realidade”. Já não cabe mais preparar crianças e jovens para o futuro incerto. Já não cabe mais valorizar somente os conteúdos escolares nos currículos. Já não cabe mais exigir apenas atenção e concentração no quadro de giz.

Os desafios que se colocam para a educação são outros. As crianças e os jovens têm que ser vistos pelo que são e não pelo que serão, pois, se queremos educá-los, precisamos partir do que são, do que eles sabem, do que eles já conhecem. Como ampliar seus conhecimentos e formá-los para que possam selecionar informações sem ter como ponto de partida a realidade deles?

Para educá-los, é necessário darmos liberdades e limites ao mesmo tempo, para que possam alçar voos maiores em busca da felicidade, que só se realizará com a felicidade dos outros.

Diante do individualismo reinante torna-se primordial educar tendo a alteridade como elemento chave. Sem os outros eu não sou ninguém. Como posso ser feliz com a infelicidade dos outros ao meu redor?

Para educá-los, é necessário municiá-los de habilidades e competências para uso imediato e de introjeção de valores permanentes que farão diferença em um futuro próximo. Nesse sentido, a escola deve valorizar o respeito ao bem comum, a cooperação e a importância do outro. Todos esses considerados contravalores na sociedade de consumo, efêmera, que vive de aparências, que privilegia o consumidor em detrimento do cidadão.

Educá-los exige-nos alegria de viver, de conviver, de aprender, de descobrir. Exige-nos saber primeiro como encorajá-los a descobrir novos conhecimentos para construir um novo modo de viver e de conviver.

*Diretor da Escola Oga Mitá

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